22/05/2024

“Teremos mais pandemias porque estamos destruindo o mundo”, diz sanitarista em coletiva com estudantes

Convidado para encerrar o ciclo de palestras do 16º curso “Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter”, o médico Gonzalo Vecina destacou o perigo dos desastres naturais, das novas pandemias e emergências sanitárias em função das mudanças climáticas.

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No sábado (18), a OBORÉ e Escola do Parlamento da Câmara Municipal fecharam com chave de ouro o ciclo de palestras do 16º módulo “Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter”, do Projeto Repórter do Futuro. O convidado foi o médico sanitarista Gonzalo Vecina, que ao falar sobre saúde pública destacou o perigo dos desastres naturais em função das mudanças climáticas e da possibilidade de novas pandemias.

“Temos que ter um sistema de acompanhamento de doenças, um centro de controle de doenças atuando em nível federal porque temos 6 biomas diferentes no Brasil. E designar recursos para mantermos estruturas de apoio para cuidar de emergências; é dever do país prestar atenção a isso”, ressaltou o palestrante, uma das maiores autoridades brasileiras nas questões que envolvem gestão de recursos ligados à saúde pública.

Alunos durante palestra e coletiva com Gonzalo Vecina na sala Oscar Pedroso Horta da Câmara Municipal. Para sanitarista, que foi secretário municipal da saúde de São Paulo entre 2003 e 2004, "a grande mídia apresenta discussão rasa sobre as questões do nosso tempo" - daí a importância de formar profissionais da comunicação que saibam aprofundar seus conhecimentos e possam atuar com competência. Foto: Luana Copini.

Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Vecina fez parte do grupo de idealizadores do SUS (Sistema Único de Saúde) na década de 1980. Primeiro diretor da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), entre 1999 e 2003, o sanitarista atuou tanto na iniciativa pública, como secretário municipal de saúde de São Paulo entre 2003 e 2004, no governo de Marta Suplicy, quanto na iniciativa privada, como superintendente do Hospital Sírio-Libanês.

Gonzalo Vecina foi especialmente convidado para o fechamento do ciclo de palestras do módulo sobre a cidade, que integra as atividades do Repórter do Futuro – projeto que neste ano completa 3 décadas e que já impactou centenas de estudantes de todo o Brasil em sua formação de repórter.

Em saúde, nem sempre gastar mais é sinônimo de viver mais
No encontro, Vecina deu um panorama sobre investimentos em saúde de países como EUA, Brasil e Cuba. Segundo dados de 2019 do Banco Mundial, os EUA investem $11mil dólares per capita ano e os cidadãos americanos têm, em média, expectativa de vida de 77 anos. Cuba vem em seguida, com $1.032 dólares per capita ano, e a expectativa de vida de seus cidadãos é de 79 anos. Já o Brasil investe $853 dólares per capita ano e a expectativa de vida dos brasileiros é de 76 anos. Na análise do médico, nem sempre gastar muito significa mais saúde, como é o caso dos americanos.

Entrosamento entre as esferas de poder é fundamental para uma boa gestão
O médico também explicou alguns dos problemas que envolvem uma política de saúde em megalópoles como São Paulo. Dada a grande mobilidade de pessoas de outros municípios que também utilizam o serviço de saúde da capital paulistana, essas questões fronteiriças impactam na gestão das diversas esferas de poder. Vecina demonstra que não há uma comunicação eficaz entre elas: município, estado e governo federal possuem diferentes sistemas de controles de saúde e que na maioria das vezes não se “conversam”, dificultando o acesso às informações, além da falta de recursos humanos como médicos, enfermeiros, auxiliares e demais profissionais.

Em saúde, nada é dado. Tudo é conquistado pela sociedade
Ao longo da sua palestra, Vecina comentou que o SUS foi inspirado nos modelos de saúde inglês e cubano, mas fez uma ponderação a respeito das particularidades de sua implantação no Brasil: o protagonismo da sociedade no controle social das políticas públicas, diz o médico.

“A jabuticaba do SUS é o controle social, algo que só temos no Brasil”, destaca Gonzalo Vecina. Estabelecido pela Constituição de 1988, controle social é um dos princípios da democracia participativa e um dos pilares do Sistema Único de Saúde. Refere-se aos mecanismos de participação da sociedade na definição, implementação e fiscalização das políticas públicas e ações do Estado. Ou seja, quando a sociedade participa do controle social, ela interfere nas ações do governo ajudando a planejar e implementar as políticas públicas.

O SUS tem como premissa garantir o acesso integral, universal e igualitário da população brasileira aos serviços de saúde pública, passando pela promoção e prevenção da saúde, pelo atendimento básico nos Centros e Unidades de Saúde até em situações mais complexas, como o transplante de órgãos e vigilância sanitária.

Conferências e Conselhos são espaços de controle social
No âmbito do controle social, as conferências de saúde são espaços democráticos de construção das políticas de saúde. São espaços nos quais a sociedade se manifesta e decide o destino da saúde em cada esfera de poder: municipal, estadual e federal.

Os conselhos de saúde atuam como instâncias propositivas e de acompanhamento. Por meio desses conselhos, a sociedade se organiza de forma concreta, fazendo valer a exigência legal estabelecida para repasses de recursos financeiros nas esferas municipais, estaduais ou federal e garantindo que a saúde seja um direito de todos e dever do Estado. Todos os munícipios brasileiros dispõem de um conselho de saúde.

Por Fábia Medeiros. Edição de Ana Luisa Gomes.

Sobre o curso
Na metodologia especialmente desenvolvida para este projeto de formação, os estudantes dedicam-se a pesquisa prévia sobre o entrevistado e são estimulados a produzir uma peça jornalística a cada encontro. Também recebem orientações por meio de atendimentos individuais prestados por jornalistas experientes que integram a coordenação do projeto.

O módulo propõe ainda a realização de uma reportagem de fôlego sobre um ou mais temas discutidos ao longo do curso e produzida em duplas. Trata-se da “Operação Ponto Final”, cuja audição pública acontece no encerramento das atividades do curso.

O Repórter do Futuro conquistou horário permanente na programação da Rede Câmara de São Paulo. Já em sua segunda temporada, é um espaço de veiculação das peças desenvolvidas nos diversos módulos do projeto ao longo do ano. As peças produzidas neste curso integrarão a terceira temporada do programa, que tem previsão de ir ao ar no segundo semestre deste ano.

Assista aqui o que já foi ao ar.
O módulo deste ano integra as atividades comemorativas dos 30 anos do Projeto Repórter do Futuro e tem o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji; Escola da Cidade - EC; Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo - IEA/USP; Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais – IPFD e Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC – LabLivre / UFABC. A coordenação pedagógica desta edição é dos jornalistas Ronald Sclavi e Sergio Gomes.

Saiba mais sobre o projeto clicando aqui.

Veja o que já aconteceu neste módulo:
Encontro de Confraternização e Seleção
Encontro com Bruno Paes Manso
Bruno Paes Manso profere aula pública inaugural do 16º curso Descobrir São Paulo
Repórter do Futuro: florestas urbanas é tema do encontro deste sábado, 27
O bom jornalismo também está desafiado a pensar cidades mais saudáveis
Sábado tem bate-papo sobre como construir uma boa reportagem
“Somos contadores de estórias” diz Jorge Araújo em bate-papo sobre práticas no jornalismo
Inteligência Artificial é tema do encontro deste sábado, 11, no Repórter do Futuro
Em coletiva, pesquisador defende necessidade de investimentos na soberania digital do Brasil

Saúde e globalização virótica é tema do encontro deste sábado, 18, no Repórter do Futuro

Próximas Atividades:
OPERAÇÃO PONTO FINAL (em andamento)

15/6/24 – FEIRA DE AMOSTRAS DA OPERAÇÃO PONTO FINAL | ENCONTRO DE AVALIAÇÃO E ENCERRAMENTO Feira de Amostras da Operação Ponto Final

SERVIÇO

PROJETO REPÓRTER DO FUTURO 2024 16º módulo ‘Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter’
- Datas: 20 de abril a 15 de junho, aos sábados, das 10h às 13h, na Câmara Municipal de São Paulo
- Modalidade: presencial.
- Carga horária: 84 horas, sendo 24h/aula de atividades presenciais + 12h de leituras + 48h de atividades práticas de produção de textos e de reportagens.
- Critério de certificação: certificado concedido apenas aos que obtiverem presença em 100% dos encontros, entrega de 4 textos produzidos a partir das 4 palestras/entrevistas coletivas programadas e entrega da reportagem da Operação Ponto Final feita em dupla.

Realização:
OBORÉ e Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo

Apoio:
- Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji - Escola da Cidade
- EC - Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo
- IEA/USP - Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais – IPFD.
- Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC – LabLivre / UFABC

Mais informações:
reporterdofuturo@obore.com Telefone: (11) 2847.4567 Whatsapp: (11) 99320.0068. www.obore.com

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