19/06/2021

Respostas simples não resolvem problemas complexos, afirma biólogo

Ruam Oliveira | OBORÉ Projetos Especiais

As cidades são organismos complexos. A depender de seu tamanho, essa complexidade fica ainda maior. No caso de São Paulo, com seus 12 milhões de habitantes, as soluções para os seus grandes problemas não podem ser enfrentados de maneira simples.

"Problemas complexos exigem soluções complexas", afirmou Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências USP e um dos coordenadores do Centro de Síntese USP - Cidades Globais (IEA/USP), durante encontro do 14º Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter, módulo do Projeto Repórter do Futuro que discute a cobertura da cidade.

Para o pesquisador, ciência e informação são pontos fundamentais a serem observados, e as dificuldades que as cidades irão enfrentar hoje e no futuro próximo não serão resolvidas com "bala de prata".

Por parte da ciência, as análises dependem de dados que, às vezes, não chegam até os pesquisadores, o que dificulta que o trabalho deles seja feito. "A ciência é a via mais curta para a gente chegar à verdade. E [quando] colocada num contexto democrático - ouvindo a população e tendo uma política equilibrada - pode nos levar a um caminho melhor", disse Buckeridge.

Sobre esta dificuldade de acesso aos dados, Buckeridge relembra a importância do trabalho do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e critica a maneira como a instituição vem sendo tratada nos últimos anos. No início deste ano, o governo federal cancelou o levantamento - que deveria ter sido feito em 2020.

"O ataque ao IBGE é o ataque ao vértice da ciência. É o vértice do negacionismo", apontou o biólogo. Ele afirmou que apesar de o assunto do momento ser a pandemia e de que forma a ausência de dados inviabiliza análises e ações concretas, esse "ataque" continuará por mais tempo. "O ataque ao IBGE para o Brasil, na minha visão, é um ataque mais mortal do que o feito pela pandemia".

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As análises que o pesquisador realizou junto com o seu grupo de pesquisadores foram baseados em dados obtidos por jornalistas, na imprensa diária. Segundo ele, com outros setores olhando para os mesmos dados, haveria a possibilidade de pensar a partir de diferentes ângulos e compreender melhor o desafio. "O governo se preocupou com a parte médica do problema e não com a sociologia e a psicologia social. Estávamos prontos para isso, mas para acontecer é necessário ter dados que continuam escondidos".

Além de defender a ciência como ferramenta necessária para pensar estratégias para os novos tempos, Buckeridge também afirmou o quanto é necessário que a imprensa trabalhe com informações honestas, claras e confiáveis. "A educação dos adultos é feita pela mídia, pois vocês [são quem] vão escrever o que os adultos vão ler e nortear as ideias. A responsabilidade é enorme".

O 14º Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter é uma iniciativa da OBORÉ em parceria com a Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo e conta com o apoio da Abraji - Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, do IEA-USP - Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, do IAB-SP - Instituto dos Arquitetos do Brasil / Seção São Paulo, da Escola da Cidade, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – Escola de Humanidades e do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão de Políticas Públicas e Sociais.

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Confira a programação

Sobre o Repórter do Futuro
Trata-se de um projeto de formação iniciado em 1994 pela OBORÉ com a proposta de complementar as atividades práticas laboratoriais de alunos matriculados nos cursos de Jornalismo com foco no estímulo à prática reflexiva e no exercício da reportagem. Ao longo de quase três décadas de existência, desenvolveu e aperfeiçoou uma metodologia própria para conduzir pedagogicamente suas atividades por meio de Conferências de Imprensa seguidas de Entrevistas Coletivas.

Os alunos são acompanhados, de forma individual, na produção de seus textos e, ao final do módulo, desenvolvem uma produção jornalística - impressa, radiofônica, televisiva ou multimídia - a partir de uma reportagem de fôlego, com foco no empenho para sua publicação. É a chamada Operação Ponto Final, que neste projeto é desenvolvido em duplas e no bairro de livre escolha dos estudantes. Com esta proposta pedagógica, são igualmente beneficiados por esta formação os estagiários de comunicação que atuam nos gabinetes dos vereadores da Câmara Municipal.

A Escola do Parlamento

A Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo foi criada pela Lei nº 15.506 de 13 de Dezembro de 2011, com o objetivo de oferecer aos parlamentares e munícipes subsídios para identificar a missão do Poder Legislativo e desenvolver programas de ensino, cursos e eventos direcionados à formação e à qualificação de lideranças comunitárias e políticas.

Desde sua criação a Escola do Parlamento adotou como missão institucional a promoção de eventos voltados à formação e à educação em cidadania e política de cidadãos e servidores, além de uma série de cursos de curta duração, ciclos de debates e seminários sobre temas centrais da cidade de São Paulo. Neste sentido, destacam-se a abordagem de temas como mobilidade, cultura, imigração, população em situação de rua, questões de gênero e reforma política.

A parceria com a OBORÉ constitui importante frente de atuação da Escola na promoção da educação política dos cidadãos e profissionais que lidam diariamente com a realidade e os dilemas metropolitanos, como saúde, educação, transporte, cultura e violência. Das 14 edições do módulo Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter, dez foram realizadas no escopo desta parceria com o propósito de qualificar estudantes de jornalismo para uma cobertura crítica e aprofundada da nossa cidade.

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